O vaping pode causar irritação pulmonar e inflamação, levando a condições respiratórias crônicas, como bronquite e asma. 

Um estudo em Hong Kong, com aproximadamente 45.000 adolescentes, descobriu que o uso de cigarros eletrônicos estava associado a maior probabilidade de relatar tosse crônica ou catarro. Um estudo com quase 2.000 estudantes do ensino médio no sul da Califórnia mostrou que tanto o uso passado quanto o atual de cigarros eletrônicos estavam associados a um aumento de quase duas vezes no risco de sintomas bronquíticos crônicos. Outras pesquisas também encontraram associações entre o uso de cigarros eletrônicos e histórico de asma e exacerbações de asma. Em adultos, o uso de cigarros eletrônicos foi associado a asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), com efeitos maiores em não fumantes. Estudos longitudinais são necessários, mas a consistência dessas associações sugere que os usuários de cigarros eletrônicos experimentam sintomas de lesões tanto nas vias aéreas quanto nos alvéolos.

[Gotts JE, Jordt SE, McConnell R, Tarran R. What are the respiratory effects of e-cigarettes? BMJ. 2019 Sep 30;366:l5275. doi: 10.1136/bmj.l5275. Erratum in: BMJ. 2019 Oct 15;367:l5980. PMID: 31570493; PMCID: PMC7850161]

Embora haja evidências amplas dos efeitos adversos agudos dos cigarros eletrônicos e de suas propriedades tóxicas sobre o sistema cardiovascular, incluindo estresse oxidativo e disfunção endotelial, estudos sobre o uso de longo prazo dos cigarros eletrônicos e o risco de doença cardiovascular são limitados e controversos.  O uso diário de cigarros eletrônicos foi associado independentemente a um maior risco de infarto do miocárdio, semelhante ao uso diário de cigarros de tabaco. No entanto, o uso anterior e ocasional de cigarros eletrônicos não mostrou uma associação significativa com um maior risco de infarto do miocárdio.

Em resumo, embora o vapor de cigarro eletrônico seja considerado menos tóxico que a fumaça do cigarro de tabaco, ainda assim, o ato de fumar cigarros eletrônicos aumenta a pressão sanguínea, causa disfunção endotelial e aumenta o estresse oxidativo vascular e cerebral.

[Münzel T, Hahad O, Kuntic M, Keaney JF, Deanfield JE, Daiber A. Effects of tobacco cigarettes, e-cigarettes, and waterpipe smoking on endothelial function and clinical outcomes. Eur Heart J. 2020 Nov 1;41(41):4057-4070. doi: 10.1093/eurheartj/ehaa460. PMID: 32585699; PMCID: PMC7454514].

Embora não seja uma doença no sentido tradicional, lesões graves podem ocorrer devido a explosões de dispositivos de vaping devido a mau uso, falhas de bateria ou uso de dispositivos defeituosos. 

Em uma revisão sistemática, foram identificadas 42 publicações apresentando 126 casos de lesões relacionadas ao uso de cigarros eletrônicos. A maioria das lesões foi causada por explosão. A segunda causa mais comum foi queimaduras térmicas, seguida por uma combinação de explosão e queimadura térmica causada pela explosão do dispositivo montado. A grande maioria dos casos ocorreu nos EUA, com pacientes predominantemente do sexo masculino e mediana de idade de 28 anos. As áreas do corpo mais afetadas foram as coxas e as mãos. Um total de 55 casos apresentou lesões em múltiplas áreas do corpo. A área total de queimadura foi relatada para a maioria dos casos, com mediana de 4% de área de queimadura. A maioria dos pacientes recebeu alta sem complicações adicionais, enquanto 15 casos apresentaram complicações, incluindo amputação, dor crônica e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). 

[Tzortzi A, Kapetanstrataki M, Evangelopoulou V, Beghrakis P. A Systematic Literature Review of E-Cigarette-Related Illness and Injury: Not Just for the Respirologist. Int J Environ Res Public Health. 2020 Mar 27;17(7):2248. doi: 10.3390/ijerph17072248. PMID: 32230711; PMCID: PMC7177608].

Foram identificadas 28 publicações relacionadas a envenenamentos por líquidos de cigarros eletrônicos, causados por ingestão acidental, ingestão intencional, injeção intravenosa ou uma combinação de ingestão e injeção.

A ingestão acidental ocorreu apenas em crianças pequenas, com mediana de idade de 2 anos, principalmente do sexo feminino. Duas crianças precisaram de internação na unidade de terapia intensiva (UTI) e intubação, enquanto a maioria não precisou de tratamento invasivo. Os casos mais graves resultaram em morte ou complicações auditivas.

As tentativas de suicídio foram principalmente por adultos, com mediana de idade de 27 anos, a maioria do sexo masculino. A admissão na UTI foi necessária em vários casos, com algumas intubações. O tratamento mais comum foi a administração de carvão ativado. Alguns casos resultaram em melhorias, mas outros foram fatais.

[Tzortzi A, Kapetanstrataki M, Evangelopoulou V, Beghrakis P. A Systematic Literature Review of E-Cigarette-Related Illness and Injury: Not Just for the Respirologist. Int J Environ Res Public Health. 2020 Mar 27;17(7):2248. doi: 10.3390/ijerph17072248. PMID: 32230711; PMCID: PMC7177608].

EVALI, condição associada à vaporização, apresenta sintomas como falta de ar, dor no peito, tosse, hemoptise, náusea, vômito, dor abdominal, febre e mal-estar. Os pacientes geralmente apresentam taquicardia, taquipneia, febre e hipoxemia. Até um terço pode necessitar de intubação e ventilação mecânica. Demograficamente, 67% dos pacientes são do sexo masculino, com idade média de 24 anos, e até 86% estão ligados a produtos de vaporização contendo THC. Aqueles com EVALI são mais propensos a relatar o uso exclusivo e frequente de THC e a obter produtos de fontes informais. Além disso, podem ocorrer sintomas pulmonares em usuários de cigarros eletrônicos não diagnosticados com EVALI, incluindo tosse, catarro, dispneia e chiado no peito, com efeitos adversos documentados na resistência ao fluxo de ar e no óxido nítrico exalado, semelhantes ao fumo tradicional.

[Winnicka L, Shenoy MA. EVALI and the Pulmonary Toxicity of Electronic Cigarettes: A Review. J Gen Intern Med. 2020 Jul;35(7):2130-2135. doi: 10.1007/s11606-020-05813-2. Epub 2020 Apr 3. PMID: 32246394; PMCID: PMC7351931]